domingo, 15 de junho de 2008

Posts da Princesa - Disfarces



Noutro dia, fui à taverna rever os amigos e entreter-me um pouco. Mas como? - Vocês podem pensar. - Como uma princesa visita a taverna?Este é um lugar para guerreiros, príncipes, poetas e simples camponeses, não para a filha de um rei.

Sim, de fato, vocês têm razão. Contudo, como já lhes adiantei em conversas anteriores, se, por um lado, sou presa ao cargo real ao qual fui designada ao nascer; por outro, conquistei a liberdade através de minhas escolhas e meus disfarces. Aqui, quando saio escondida, não sou mais a princesa e sim, uma simples plebéia e, como tal, posso freqüentar o ambiente que bem entender.

É claro que não me arrisco a ir onde possa ser reconhecida. Tampouco mostro minha face ou converso com quem queira; como já disse, visito os amigos, e vou disfarçada. Mudo minhas vestes reais para simples tecidos de algodão cru, cobertos com uma capa escura. Esta protege também meu rosto.Procuro não chamar atenção. Entro quieta, e observo a tudo, e a todos.

Esta aventura também me serve de escola algumas vezes. Agindo como uma pessoa comum, obtenho aprendizados que não conseguiria como princesa. Olho atenta às pessoas; vejo como se portam, como vivem, e posso até descobrir seus anseios e angústias.

Acabei percebendo que não sou a única disfarçada ali. Não, não falo da troca de identidade da realeza...Falo do disfarce da face, das atitudes, até mesmo das palavras.
Quantas vezes enxerguei o sofrimento por trás de um sorriso, o amor, por trás das palavras de desdém, a insegurança, em atitudes agressivas? O interessante, e contrastante nisso tudo, é que não se consegue disfarçar o olhar. E como os olhos conseguem gritar em silêncio!
Palavras são ditas, atitudes tomadas, sorrisos, tudo, tudo isso se pode forçar. Menos o olhar...Até mesmo aos atores é árdua a tarefa de o controlar.

Mas penso, sinceramente, no quão simples a vida seria se não usássemos tantos disfarces. Se todos pudéssemos demonstrar em palavras, atitudes e sorrisos ou lágrimas, o que sentimos e como somos. Haveria mais discussão? Talvez. Porém, penso que haveria mais confiança no semelhante também. Jamais entraríamos numa relação sem saber qual a real intenção do outro, por exemplo. E quantas guerras seriam evitadas...Quantos reinos ainda estariam de pé?

Sei que sou utópica demais. Sei também que não há reino perfeito. E que fomos criados na imperfeição. No entanto, a cada aprendizado trabalho para conseguir ensinar a alguém a ser mais livre, mais consciente de suas qualidades e falhas, mais maduro.

Porque reino encantado não existe, mas sempre podemos ser pessoas melhores...


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